03 dezembro 2011

DEFINIÇÃO DE MÃE

E mãe é isso mesmo.

 "Mãe é aquele ser estranho, louco, capaz de heroísmos, dramas e
 breguices com a mesma fúria; paga mico, escreve carta para Papai Noel,
 se faz passar por fadinha do dente, coelho da páscoa, cuca, pede
 autógrafo para artistas deploráveis assiste a programas, peças, shows
 horríveis, revê milhares de vezes os mesmos desenhos animados, conta
 as mesmas histórias centenas de vezes, vai pra Disney e A D O R A!
 
 Mãe faz escândalo, tira satisfação com professor, berra em público, dá
 vexame, deixa a gente sem graça, compra briga; é espaçosa, barulhenta,
 tendenciosa, leoa, tiete, dona da gente. Mãe desperta extremos,ganas,
 irrita, enlouquece, mas... É mãe.
 
 Mãe faz promessa, prestação, hora extra, pra que a gente tenha o que é
 preciso e o que sonha. Mãe surta, passa dos limites, às vezes até
 bate, diz coisas duras; mãe pede desculpas, mortificada... Mãe é um
 bicho doido, louco pela cria. Mãe é Visceral!
 
 Mãe chora em apresentação de balé, em competição de natação, quando a
 filha menstrua pela primeira vez, quando dá o primeiro beijo, quando
 vê a filha apaixonada no casamento, no parto... Xinga todo e cada
 desgraçado que faz a filha sofrer, enlouquece esperando ela chegar da
 balada, arranca os cabelos  diante da morte...
 
 Mãe é uma espécie esquisita que se alterna entre fada e  bruxa com um naturalidade
 espantosa. É competente no item culpa e insuperável no item ternura,
 mas pode ser virulenta, tem um lado B às vezes  C, D, E...
 
 Mãe é melosa, excessiva, obsessiva, repulsiva, comovente, histérica, mas não
 se é feliz sem uma. Mãe é contrato: irrevogável, vitalício, instransferível!

 Mãe lê pensamento, tem premonição, sonhos estranhos. Conhece cara de
 choro, de gripe, de medo; entra sem bater, liga de madrugada, pede
 favor chato, palpita e implica com amigos, namorados, escolhas.
 
 Mãe dá a roupa do corpo, tempo, dinheiro, conselho, cuidado, proteção.
 
 Mãe dá um jeito, dá nó,dá bronca, dá força. Mãe cura cólica, porre, tristeza,
 pânico noturno, medos. Espanta monstros, pesadelos, bactérias
 mosquitos, perigos.
 
 Mãe tem intuição e é messiânica: Mãe salva. Mãe
 guarda tesouros, conta histórias e tece lembranças. Mãe é arquivo!
 Mãe exagera, exaure, extrapola.
 
 Mãe transborda, inunda, transcende.
 Ama, desmama desarma, denota, manda, desmanda, desanda, demanda.
 Rumina o passado, remói dores, dá o troco, adora uma cobrança e um
 perdão lacrimoso.

 Mãe abriga, afaga, alisa, lambe, conhece as batidas do nosso coração,
 o toque dos nossos dedos, as cores do nosso olhar e ouve música quando
 a gente ri. Mãe tem coração de mãe!

 Mãe é pedra no caminho, é rumo; é pedra no sapato, é rocha; é drama
 mexicano, tragédia grega e comédia italiana; é o maior dos clássicos;é
 colo, cadeira de balanço e divã de terapeuta...
 Mãe é madona-mia! É  deus-me-acuda; é graças-a-deus; é mãezinha-do-céu,
 é mãe é minha- e- eu- mato -quando- quiser; é a que padece no paraíso
 enquanto nos inferniza...   
 
 Mãe é absurda e inexoravelmente para sempre e é uma só:
 não há Mistério maior! Só cabe uma mãe na vida de uma filha... e olhe
 lá! Às vezes, nem cabe inteira. Mãe é imensurável!

 Mãe é saudade instalada desde o instante em que descobrimos a morte.
 Mãe é eterna, não morre jamais. Bicho estranho, entranha, milagre,
 façanha, matriz, alma, carne viva, laço de sangue, flor da pele.  Mãe
 é mãe, e faz cada coisa..."

(Texto de Hilda Lucas)